sábado, 10 de maio de 2008
Diz-se que a utopia acabou
Foi muito mais do que se de uma simples revolta se tratasse. Por isso Nicolas Sarkozy, no último comício antes da primeira volta das eleições presidenciais, em Paris, perante uns milhares de apoiantes, passados quase 40 anos, declarou querer “liquidar a herança de Maio de 68”, cuja geração tinha “imposto a ideia de que não havia nenhuma diferença entre o bem e o mal, nenhuma diferença entre o verdadeiro e o falso, entre o belo e o feio”. É normal que o diga o Sr. Presidente pois a sua política conservadora e moralista é amedrontada por qualquer resquício de ideias revolucionárias. Os valores hipócritas e cínicos que perpetua não se coadunam com qualquer possibilidade de transformação social e existem valores de hoje que têm, enquanto base de apoio, muito daquilo que aconteceu então. Como diz o sociólogo César Benjamim, "se continuamos interessados em 1968 é porque o que então ocorreu ainda nos tem a dizer sobre o futuro”.
Em 1968, os movimentos operários aliaram-se aos movimentos estudantis num confluir de lutas que, no fundo, ansiavam por liberdade. Foi nas ruas, nas fábricas e demais postos de trabalho, nas universidades, em polvorosa agitação e sob uma brutal repressão policial, que se discutiu e agiu numa França conservadora, fechada, em que os médicos diagnosticavam a homossexualidade como uma doença. Gritou-se a peito aberto que o impossível era possível – na hora! Foi um protesto romântico – reivindicou-se “a imaginação ao poder!”. É certo, porém, que todos os poderes instaurados foram postos em causa: abriu-se uma brecha que rapidamente se tornou num terramoto e, ao revolver os costumes mais profundos, quebrou-se, para sempre, o paradigma social e politico instaurado.
A França de 68 viu passar uma mega greve geral à qual aderiram 9 milhões de trabalhadores, mas foram muitos mais os milhões de pessoas em todo o mundo que saíram às ruas: pessoas que em rasgos libertários ansiavam por uma plena liberdade sexual; com referências como Martin Luther King ou Malcom X, a luta contra a realidade da repressão racista misturou-se com os estudantes em fervorosa contestação ao funcionamento reaccionário e rígido das suas universidades, numa miscelânea de causas que também brotou de toda uma intervenção artística e cultural – foi muito mais do que uma revolta amoral. Foi uma luta contra o autoritarismo, contra a repressão. Um mundo mais pacífico, mais justo foi proposto nas diversas faces da contestação.
José Mário Branco, que estava em Paris em 68 e foi parte integrante das movimentações contestatárias, é hoje um estudante universitário activo na sua escola. A sua intervenção multifacetada estende-se não só à música, área onde o seu genialismo nos deixou um legado brilhante, como também aos diversos temas sociais actuais onde não pode deixar de se insurgir (veja-se o seu papel activo de contestação à guerra do Iraque). É com ele que vai acontecer uma conversa na sala de convívio do ISEG, 4ª feira, dia 14 de Maio, às 16h30, não só sobre o Maio de 68, que será também revivido em documentários, mas também em torno das movimentações e causas de hoje.
Considero que faz todo o sentido lembrar os belos tempos de 68, mas fundamentalmente é urgente parar para pensar sobre hoje. Sobre para onde vamos e o que queremos agora. Muitos jovens, constantemente apelidados de individualistas, hoje correm pelas suas causas. Batem-se por aquilo em que acreditam, alicerçados em grande parte por essa longínqua época e pelo desejo de transformação social. Desde jovens que lutam por igualdade de oportunidades, numa era marcada pelo desemprego e condições de vida precárias, até toda uma intervenção que decorre à escala global – os movimentos alter-globalização que alertam para a insustentabilidade do paradigma neo-liberal propondo outra globalização mais justa, os movimentos anti-guerra que se fazem sentir em todo o mundo, ambientalistas que nascem e se fazem ouvir com intensidade desde o início dos anos 70.
Como escreveu o jornalista brasileiro Zeunir Ventura, também um “jovem de 68”, “diz-se que a utopia acabou. (…) Mas não acho que o sonho tenha acabado. Se perdermos a capacidade de sonhar, aquele sonho que o Freud associa a desejo, estamos perdidos. Acaba nossa razão de ser. De que maneira sonhar? Com a mudança, com o desejo de melhoria de sua vida, de sua cidade, de seu país. Isso é inseparável da história do homem. Há uma corrente pós-moderna do cepticismo, do cinismo, segundo a qual a utopia, a esperança e a solidariedade seriam sentimentos decadentes. Acho que não. São valores permanentes.” São, provavelmente, tais valores de cepticismo e de acomodação os primeiros que nós, enquanto jovens do agora, devemos pôr de forma incessante em causa pois são os primeiros entraves à nossa capacidade de sonhar, sobretudo na era actual onde o consumo descartável e o “salve-se quem puder” são duas faces da mesma moeda.
BD
terça-feira, 6 de maio de 2008
Manifesto
Por uma escola universal e democrática,
Por um ensino superior público gratuito
Por outra Bolonha.
Por uma intervenção cultural nas nossas escolas!
Que busque a construção de uma alternativa justa, só alcançável através da participação crítica de todas e de todos
Pelo debate
Pela participação
Activa
De
Todos e todas
Somos um grupo apartidário, plural e aberto, sem hierarquias
De discussão, reflexão e acção
Acreditamos noutra maneira de fazer (as) coisas
Queremos um ISEG que, acima de tudo, forme pessoas. Pessoas conscientes, críticas e activas
Acreditamos que outro escola é possível!
Que fomente o pensamento sem amarras!
Por um ensino superior público gratuito
Por outra Bolonha.
Por uma intervenção cultural nas nossas escolas!
Que busque a construção de uma alternativa justa, só alcançável através da participação crítica de todas e de todos
Pelo debate
Pela participação
Activa
De
Todos e todas
Somos um grupo apartidário, plural e aberto, sem hierarquias
De discussão, reflexão e acção
Acreditamos noutra maneira de fazer (as) coisas
Queremos um ISEG que, acima de tudo, forme pessoas. Pessoas conscientes, críticas e activas
Acreditamos que outro escola é possível!
Que fomente o pensamento sem amarras!
terça-feira, 22 de abril de 2008
::: DEBATE SOBRE PRECARIEDADE LABORAL :::
Charles Baudelaire
EMBRIAGAI-VOS
Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embriagar-vos sem tréguas.Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: "São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha."
Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embriagar-vos sem tréguas.Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: "São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha."
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